Mirassol vence Vasco por 2 a 0 e garante vaga direta na Libertadores pela primeira vez na história

O Mirassol fez história nesta terça-feira, 2 de dezembro de 2025, ao vencer o Vasco da Gama por 2 a 0 no Estádio São Januário, no Rio de Janeiro, e garantir, pela primeira vez em sua trajetória, uma vaga direta na fase de grupos da CONMEBOL Copa Libertadores da América. O jogo, válido pela 37ª rodada do Brasileirão Série A 2025, foi marcado por chuva torrencial, pressão extrema e um desempenho disciplinado que superou as expectativas. O técnico Rafael Guanaes, que comanda o clube desde 2023, viu sua equipe subir ao quarto lugar com 63 pontos — o melhor resultado da história do clube fundado em 1925, em Mirassol, São Paulo.

Uma vitória construída na paciência e na defesa

Apesar da chuva que transformou o gramado em lama, o Mirassol jogou com inteligência tática. O time evitou o jogo rasteiro, optando por passes verticais e aproveitando os espaços deixados pelo Vasco, que, embora tenha dominado as finalizações (10 a 7), não conseguiu traduzir posse em gols. A primeira grande chance do jogo veio aos 28 minutos do primeiro tempo: David, após cruzamento de Robert Renan e ajuste de Pablo Vegetti, chutou de primeira e acertou a trave com força. "Foi o momento em que a gente sentiu que o gol poderia vir a qualquer momento", relatou o comentarista da Sportv.

O gol da abertura só veio aos 38 minutos do segundo tempo, após contra-ataque perfeito. O meia Lucas Tavares, que havia entrado no intervalo, tocou para João Pedro, que deslocou o zagueiro e finalizou com precisão, deixando o goleiro Matheus Costa sem reação. O segundo veio aos 47 minutos, quando o volante Caio César, de cabeça, aproveitou escanteio cobrado por Lucas Silva. Foi o sexto gol de cabeça do Mirassol na temporada — o maior número entre os 20 clubes da Série A.

As emoções do Vasco: frustração e despedida em casa

Enquanto o Mirassol comemorava uma conquista inédita, o Vasco da Gama encarava uma realidade dolorosa. O Gigante da Colina, que vinha de uma goleada de 5 a 1 sobre o Internacional na rodada anterior, terminou sua campanha em casa com apenas quatro vitórias em 19 jogos. O técnico Fernando Diniz, que assumiu o clube em 2024, viu sua equipe perder a chance de se manter na briga por uma vaga na Sul-Americana. "Não foi falta de esforço. Foi falta de eficiência. A gente criou, mas não converteu. E isso, no futebol, é fatal", disse Diniz após o apito final.

A torcida vascaína, que lotou o São Januário mesmo com o tempo ruim, saiu em silêncio. Alguns cantaram o hino, outros apenas encararam o gramado. "É como se a gente tivesse perdido uma final", comentou o torcedor Edson Ferreira, de 54 anos, que comparece aos jogos desde 1989. O Vasco encerrou sua participação no estádio com um recorde negativo: apenas 14 pontos conquistados em casa na temporada — o pior entre os clubes da elite.

Um clube do interior que virou referência

O Mirassol, com orçamento inferior a R$ 30 milhões — menos da metade do que o Vasco gasta só em salários — tornou-se o quarto colocado do Brasileirão com o terceiro melhor ataque da competição (52 gols). Nenhum clube do interior havia alcançado o G4 desde o Avaí, em 2008. "Isso aqui é um milagre organizado", afirmou o presidente João Batista, em entrevista pós-jogo. "Nós não temos patrocinadores gigantes, mas temos uma estrutura de base que funciona. E temos um técnico que acredita no jogador, não no nome".

Além disso, o clube paulista teve a melhor média de idade do G4: 25,3 anos. O zagueiro Gêmeas, que retornou após lesão muscular, foi peça-chave na defesa. Junto com João Víctor, formou a dupla mais sólida do time nos últimos 15 jogos — apenas dois gols sofridos nesse período. "Nós não somos favoritos. Somos os que mais correm. E isso assusta", disse Gêmeas.

O que vem a seguir?

Com a classificação garantida, o Mirassol já começa a planejar sua estreia na Libertadores. A equipe entrará na fase de grupos como quarto colocado do Brasil, e poderá enfrentar rivais como o Flamengo, o River Plate ou o Peñarol. O próximo desafio é o jogo contra o Atlético Mineiro, na próxima quarta-feira, em Mirassol — já sem pressão, mas com a missão de manter o ritmo.

Já o Vasco, que jogará seu último jogo da temporada na Arena MRV no domingo, 6 de dezembro, às 16h, contra o Ceará, precisa encontrar respostas para a próxima temporada. O clube, fundado em 1898, vive seu pior momento desde 2017, quando foi rebaixado pela primeira vez.

Arbitragem e tecnologia: um jogo sem polêmicas

A arbitragem de Paulo César Zanovelli da Silva (FIFA, MG), com auxiliares Guilherme Dias Camilo e Leone Carvalho Rocha, e VAR de Rafael Traci (SC), foi elogiada por ambas as equipes. Nenhum pênalti foi marcado, e apenas dois cartões amarelos foram dados — um a cada time. O VAR não interferiu em nenhuma decisão crucial, algo raro em jogos de alta tensão. "Foi um exemplo de como a arbitragem deve funcionar: invisível, mas presente", avaliou o ex-árbitro internacional Wagner Ribeiro.